Indústria de Gestão de Recursos no Brasil: Consolidação e Novas Estratégias
A indústria brasileira de gestão de recursos está passando por um período de intensa consolidação e transformações significativas. Segundo Gustavo Pires, sócio da XP Inc. e CEO interino da XP Asset, esse cenário tem beneficiado as gestoras mais estruturadas, que conseguem diversificar suas estratégias e manter a captação de recursos mesmo em momentos de instabilidade econômica.
Um Mercado em Mudança
Com um montante impressionante de R$ 10 trilhões sob gestão e mais de 32 mil fundos registrados, o Brasil se destaca como uma das dez maiores indústrias de gestão de recursos do mundo. No entanto, o ritmo de crescimento desacelerou. A XP, que distribui mais de R$ 500 bilhões e conecta mais de 200 gestoras ao varejo, observa de perto essa evolução.
Nos últimos sete anos, o crescimento anual foi de 9,5%, inferior aos 12% a 14% registrados na década anterior. A abertura de novas gestoras diminuiu em 24%, evidenciando um ciclo mais desafiador, influenciado pelos altos juros. "O ciclo recente desfavoreceu o surgimento de novas gestoras e pressionou as margens", afirmou Pires em recente apresentação.
A Migração para Ativos Isentos
Um dos principais fatores que impulsionaram essa mudança foi a crescente popularidade dos ativos isentos, como debêntures incentivadas, CRIs, CRAs, LCIs e LCAs. Em sete anos, o volume desses ativos saltou de R$ 100 bilhões para R$ 1,6 trilhão.
"Os investidores concentraram alocação em ativos isentos, muitas vezes de forma direta. Isso reduziu a atratividade dos fundos tradicionais", explicou Pires.
Impactos e Adaptações
A migração para ativos isentos teve um impacto direto: fundos multimercados e de ações, que historicamente dominavam a indústria independente, registraram resgates de R$ 200 bilhões. Em contrapartida, a renda fixa captou quase R$ 300 bilhões.
A pressão sobre as margens e a captação de recursos acelerou a consolidação do mercado. Algumas gestoras reduziram suas operações drasticamente, outras se fundiram e diversas migraram para estruturas mais próximas de family offices.
A Ascensão dos Ativos Alternativos
Ao mesmo tempo, ocorreu uma expansão significativa para ativos alternativos. Gestoras que antes se dedicavam a ações e macro passaram a investir em real estate, infraestrutura, private equity, venture capital e special situations. "Vimos casas que eram monotemáticas se transformando em verdadeiras powerhouses de gestão", destacou Pires.
A XP Asset, desde 2016, intensificou sua atuação em alternativas como crédito estruturado, infraestrutura, imobiliário, agronegócio, private equity e venture capital, sendo pioneira em produtos que se tornaram referência na indústria.
O Sucesso das Estratégias Alternativas
A importância das estratégias alternativas cresceu a ponto de representar 60% do lucro operacional da XP Asset. Esses veículos são marcados por estabilidade, prazos longos e menor volatilidade na captação de recursos, demonstrando a adaptação e a visão estratégica da empresa em um mercado em constante transformação.