Crescimento da Frota de Motos no Brasil: Um Panorama Preocupante
O Brasil testemunhou um crescimento exponencial na frota de motocicletas nas últimas décadas, com implicações significativas para a segurança no trânsito e para a saúde pública. Este artigo, baseado em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explora as principais mudanças e os desafios que essa transformação trouxe.
Aumento da Frota e seus Impactos
A frota de motocicletas no Brasil cresceu de aproximadamente 2,7 milhões de unidades em 1998 para mais de 34 milhões em 2024. Isso representa um aumento da participação das motos na frota motorizada nacional de menos de 10% para cerca de 30%.
Paralelamente, a participação das motos nas mortes por acidentes de trânsito aumentou drasticamente. No final da década de 1990, as motos representavam 3% do total de óbitos, número que saltou para quase 40% em 2023.
Impacto na Saúde Pública e Custos Crescentes
Além das mortes, as motocicletas estão associadas a um número significativo de internações. Aproximadamente 60% das internações por acidentes de transporte terrestre envolvem motos, embora a frota represente apenas 30% do total de veículos. Essa alta taxa de internações onera o Sistema Único de Saúde (SUS), com gastos que ultrapassaram R$ 270 milhões em 2024.
Os gastos com internações de vítimas de acidentes com motocicletas têm aumentado ao longo dos anos. Em 1998, o SUS gastou R$ 41 milhões com esse tipo de atendimento, valor que subiu para R$ 273 milhões em 2024 (valores deflacionados).
A Falta do Seguro DPVAT e seus Efeitos
A suspensão e posterior extinção da cobrança do DPVAT em 2020 agravaram a situação. Antes, 45% da arrecadação do DPVAT era destinada ao SUS para cobrir despesas com vítimas de acidentes de trânsito. Com a interrupção do seguro, não houve mais essa fonte de recursos para compensar os gastos.
Vulnerabilidade e Fatores de Risco
Estudos indicam que os acidentes envolvendo motos são mais graves devido a diversos fatores. O Hurt Report aponta que 98% dos sinistros com motos resultam em lesões, sendo 45% delas graves.
O MAIDS Report reforça que motociclistas são mais vulneráveis devido ao tamanho reduzido da moto e à baixa visibilidade. Em colisões com veículos maiores, a diferença de massa e volume aumenta a gravidade das lesões.
No Brasil, essa vulnerabilidade é agravada por fatores socioeconômicos. Muitos motociclistas trabalham em condições precárias, com prazos curtos e alta exposição ao tráfego intenso, elevando o risco de acidentes. O risco de morte para motociclistas pode ser até 20 vezes maior do que para ocupantes de automóveis, com 71% dos sinistros resultando em atendimento hospitalar.
O Mototáxi e seus Riscos
O estudo do Ipea também aborda a proliferação de serviços de mototáxi, especialmente em municípios de porte médio nas regiões Norte e Nordeste. A legislação permissiva para esses serviços contrasta com as exigências de segurança, conforto e habilitação que deveriam ser aplicadas.
O uso do celular por motoristas de aplicativos durante a condução, prática proibida por lei, é outro fator de risco que preocupa, tornando a regulamentação desses serviços ainda mais temerária devido aos riscos envolvidos para os usuários.
Conclusão
O crescimento da frota de motocicletas no Brasil representa um desafio complexo que exige atenção e ações coordenadas. É fundamental fortalecer a segurança no trânsito, melhorar as condições de trabalho dos motociclistas e garantir recursos para o atendimento às vítimas de acidentes. A regulamentação dos serviços de mototáxi deve ser feita com cautela, priorizando a segurança e o bem-estar dos usuários.