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Isenção do IR em Debate: Impactos no Câmbio, Endividamento e Economia Ociosa

Publicada em: 05-10-2025 Autor: Yuri Kiluanji

Comprar a tese de que a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para salários até R$ 5 mil mensais irá inflacionar a demanda, com impactos na inflação e mudanças na política monetária, pode ser uma aposta arriscada. Analistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apontam para uma análise mais complexa, considerando fatores como o câmbio apreciado, o endividamento das famílias e a capacidade ociosa da indústria.

Reorganização Tributária em Foco

Para Igor Rocha, economista-chefe da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), a ampliação da isenção deve ser vista como uma medida de justiça tributária, parte de uma reorganização do sistema. Em outras palavras, o foco não deve ser apenas nos impactos na demanda, mas também na equidade fiscal.

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Efeito Cambial: A Principal Força

Rocha destaca o efeito cambial como um fator crucial. Mesmo com a taxa de desemprego em baixa histórica, a inflação tem desacelerado, impulsionada pelo diferencial de juros favorável ao Brasil. A manutenção do dólar em baixa, segundo o economista, pode compensar as pressões inflacionárias, tornando a reorganização tributária mais eficiente. Ele argumenta que o câmbio está exercendo maior influência na redução da inflação do que as questões relacionadas à demanda.

Apesar do aumento da massa salarial, a inflação está em queda, influenciada pelo câmbio, especialmente em alimentos, que são sensíveis ao aumento da demanda resultante do melhor poder aquisitivo das famílias.

Endividamento das Famílias: Um Freio na Demanda

André Perfeito, economista e fundador da André Perfeito Consultoria Econômica (APCE), discorda da ideia de que a isenção do IR resultará em um aumento significativo da demanda. O alto nível de endividamento das famílias pode limitar a transformação desse dinheiro em consumo, dada a alavancagem existente.

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Capacidade Ociosa da Indústria: Um Amortecedor

A capacidade ociosa da indústria, avaliada pelos economistas, pode atuar como um amortecedor, minimizando o impacto da isenção na demanda e na inflação. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação paulista está em 79,4%, indicando o potencial de aumento da produção. Setores como máquinas e equipamentos também mostram ociosidade, com o Nuci em 78,8% em agosto.

A queda na carteira de pedidos em alguns setores industriais sugere que há espaço para aumentar a oferta e atender a um eventual crescimento da demanda, sem gerar pressões inflacionárias significativas.

Perfeito ressalta que a preocupação reside no mercado de trabalho aquecido, que pode elevar os salários em termos reais, balanceando o ganho proporcionado pela isenção do IR. Por isso, não se pode presumir que toda a isenção se traduzirá em demanda automaticamente.

Indicadores Reforçam a Visão

O Sensor da Fiesp, que mede a percepção dos empresários sobre a atividade industrial, indica contração em setembro, reforçando a ideia de baixa atividade. As vendas registraram alta, mas os estoques ainda estão abaixo da linha divisória, mostrando a necessidade de cautela.

Conclusão

Diante desses fatores, os economistas acreditam que o Banco Central deve manter a cautela e aguardar os efeitos da política monetária. A complexidade da situação econômica exige uma análise cuidadosa, considerando não apenas a isenção do IR, mas também o câmbio, o endividamento e a capacidade produtiva da indústria. Portanto, prever mudanças drásticas na política monetária com base apenas na isenção do IR pode ser uma simplificação excessiva da realidade econômica.