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Dólar e Bolsa em Queda: Entenda a Azeda Sexta-Feira do Mercado (Trump e Fiscal)

Publicada em: 10-10-2025 Autor: Yuri Kiluanji

Dólar Dispara e Ibovespa Cede: Entenda o Mau Humor dos Mercados

Em uma sexta-feira (10) de intensa volatilidade, o mercado financeiro brasileiro registrou um dia de perdas e apreensão. O dólar fechou em forte alta, superando a marca de R$ 5,50 e atingindo a maior cotação em mais de um mês. Paralelamente, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, encerrou o pregão em queda, refletindo a aversão ao risco e a saída de investidores.

Fatores Domésticos: Temores Fiscais no Radar

A principal causa da instabilidade no mercado doméstico foi a crescente preocupação com a situação fiscal do país. A possível implementação de um "pacote de bondades" de até R$ 100 bilhões para 2026, ano eleitoral, gerou receios sobre o aumento dos gastos públicos e o impacto nas contas do governo.

  • Pacote de Bondades: Medidas como isenções e novos benefícios sociais, sem detalhamento sobre como seriam financiadas, reacenderam o temor de deterioração das contas públicas.
  • Derrubada da MP 1.303: A não aprovação da medida provisória que previa aumento de arrecadação em dois anos aumentou a incerteza, com o mercado temendo medidas pontuais, como a elevação do IOF.

Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o real despontou como a pior moeda entre os emergentes devido a esses fatores. Marianna Costa, economista da Mirae Asset, destacou que a incerteza fiscal foi o "vetor majoritário" da alta do dólar, que subiu quase dez centavos em poucas horas.

Cenário Internacional: Trump e a Guerra Comercial

No cenário internacional, as novas ameaças de Donald Trump de impor tarifas comerciais com a China reacenderam o temor de uma guerra comercial. Essa situação impulsionou a aversão ao risco global, com os investidores buscando ativos mais seguros.

  • Ameaças de Trump: As declarações de Trump contra a China desencadearam a saída de recursos estrangeiros do Brasil, com a queda do petróleo e o temor com tarifas reforçando a busca por proteção.
  • Busca por Ativos Seguros: O dólar se fortaleceu como refúgio seguro, o ouro renovou suas máximas históricas e os títulos do Tesouro atraíram compradores.

De acordo com Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury, o cenário global já estava fragilizado, e as tensões reacendidas por Trump intensificaram a demanda por proteção.

Descolamento do Real e Impacto na Bolsa

Em meio a esse cenário, o real se descolou de outras moedas emergentes, demonstrando a força dos fatores domésticos na sua desvalorização. A alta do dólar refletiu a fuga de risco e a repatriação de recursos para os EUA, impulsionada pelo movimento defensivo dos investidores, como aponta Paulo Monteiro, head da Gravus Capital.

  • Dólar Futuro: O dólar futuro para novembro avançava 1,5%, a R$ 5,49.
  • Dólar à Vista: O dólar à vista subia 2,4%, a R$ 5,505.

O Ibovespa, embora tenha apresentado tentativas de recuperação impulsionadas por medidas de estímulo ao crédito imobiliário e valorização das commodities metálicas, não conseguiu sustentar o otimismo. A pressão do câmbio e a exigência de um prêmio maior por parte dos investidores estrangeiros impediram uma recuperação consistente, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Conclusão

A combinação entre temores fiscais internos e as tensões comerciais externas resultou em um dia de aversão ao risco nos mercados. A incerteza e a volatilidade devem persistir, exigindo cautela e atenção dos investidores diante desse cenário desafiador. Empresas "inovadoras, ágeis e orientadas à eficiência", como aponta Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, podem se adaptar melhor a esses ciclos.