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Trump e a Tarifa da Cachaça: Exportações Brasileiras Desabam nos EUA, Ameaçando o Mercado Americano

Publicada em: 29-09-2025 Autor: Yuri Kiluanji

Sobretaxa de Trump Ameaça Exportações de Cachaça Brasileira aos EUA

A cachaça brasileira, um dos destilados mais emblemáticos do país, enfrenta um momento crítico no mercado internacional. Uma sobretaxa de 50% imposta pelo governo Trump nos Estados Unidos, principal destino dos destilados premium brasileiros, ameaça inviabilizar as exportações e gerar graves consequências para os produtores, especialmente os de pequeno porte.

O Impacto da Tarifa nos Negócios

A tarifa adicional imposta nos EUA tem causado paralisia nas vendas, cancelamento de pedidos e suspensão de negociações. Produtores relatam dificuldades em manter suas operações, com reflexos diretos no faturamento. A estimativa é de uma queda de 12% no faturamento com o mercado americano e retração no volume vendido.

Embora os EUA sejam o terceiro maior importador em volume, destacam-se pelo preço por litro, pagando, em média, 96% acima da média global. Essa rentabilidade torna o mercado americano o mais estratégico e sensível às alterações de custo para a cachaça brasileira.

Testemunhos e Consequências

Katia Alves Espírito Santo, proprietária da Cachaça da Quinta, empresa centenária, descreve o impacto como “violento”, afetando completamente as operações da destilaria. A empresa precisou reduzir a produção devido ao congelamento de encomendas, temendo a perda de um trabalho de mais de dez anos.

A Importância Estratégica dos EUA

O mercado norte-americano tem sido fundamental para a internacionalização de diversas marcas brasileiras. Em 2024, os EUA importaram 824 mil litros, gerando US$ 3,6 milhões em negócios. Embora a quantia pareça pequena, a rentabilidade desse destino mantinha linhas de produção em funcionamento, dando fôlego a pequenas e microempresas.

A alta de preços nos EUA força importadores a rever contratos, alongar prazos ou cancelar pedidos. A competitividade da cachaça frente a outros destilados diminui, ameaçando a exclusão do produto no mercado americano e a sustentabilidade de milhares de pequenos produtores.

Reação do Setor e Medidas de Mitigação

O Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) comunicou a situação ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). As projeções apontam para uma redução de 12% no faturamento externo e queda de pelo menos 6% no volume embarcado aos EUA.

Para mitigar perdas financeiras, produtores recorreram a uma linha emergencial do Programa Brasil Soberano, que oferece crédito para capital de giro e adaptações operacionais. Essa medida, embora represente um alívio, é vista como temporária.

Dificuldades na Substituição de Destinos

Ao contrário de outros setores, a cachaça enfrenta barreiras culturais. O consumo está ligado a hábitos locais, exigindo investimento em educação do consumidor e presença constante em pontos de venda. A proximidade com Paraguai e a tradição alemã de consumo de destilados podem ser alternativas, mas não substituem a escala e margem dos EUA.

O Futuro Incerto e Negociações Políticas

Empresários e entidades esperam que as conversas entre Lula e Trump possam reabrir caminhos. A redução de custos na fronteira poderia evitar a exclusão da cachaça das prateleiras americanas e preservar empregos. A continuidade da tarifa pode levar à suspensão de embarques e foco em mercados regionais, desacelerando a internacionalização da cachaça.

Impacto no Consumidor Americano

A alta de preços e a redução da disponibilidade transformam a cachaça em um produto esporádico para famílias brasileiras nos EUA e para o público que a descobriu por meio da coquetelaria. Importadores reduzem pedidos e varejistas diminuem o sortimento, limitando as opções para o consumidor. Rótulos consolidados encontram dificuldades para planejar novas remessas com margens comprimidas.

Considerações Finais

A situação da cachaça brasileira nos EUA é delicada e exige soluções urgentes. A manutenção da sobretaxa pode prejudicar a presença do destilado na maior vitrine global de bebidas e impactar negativamente toda a cadeia produtiva. A questão central é: qual caminho prevalecerá – um acordo que alivie a tarifa ou uma reconfiguração da estratégia das marcas brasileiras fora dos EUA?